O termo cefaleia se refere à boa e velha dor de cabeça. Na verdade, existem mais de 150 tipos de cefaleias. Mas vamos falar aqui das mais frequentes e importantes. Didaticamente, costumamos dividir as cefaleias em primárias e secundárias.

Cefaleias Primárias

As primárias são: migrânea (ou enxaqueca), tensional e cefaleia em salvas. A cefaleia tensional é a mais comum, aparece como um peso ou aperto nas regiões frontal (testa) e occipital (nuca), podendo também se apresentar no vértex (topo da cabeça). Tem duração de 15 minutos a 3 dias e geralmente não incapacita a pessoa de realizar suas atividades, embora seja bastante incômoda. Está geralmente relacionada à tensão e contratura muscular cervical e do crânio.

A enxaqueca, mais frequente nas mulheres (em torno de 2-3 vezes mais frequente), por ser mais intensa e incapacitante, leva os pacientes com maior frequência a procurar o serviço médico. Trata-se de uma dor pulsátil, normalmente unilateral alternante, ou seja, dói dos dois lados da cabeça, sendo um de cada vez, tem foto e fonofobia (luz e barulho incomodam ou pioram a dor), náusea e vômitos, duração de 15 min a 3 dias e pode ser precedida por fenômenos visuais, conhecidos como aura visual (luzes – fosfenas, ou pontos escuros – escotomas). A enxaqueca pode ser causada classicamente pela ingestão de determinados alimentos e bebidas (queijos, embutidos, frituras, vinho tinto), cheiros, privação ou excesso de sono, exposição excessiva a claridade, entre outros. O importante aqui é estabelecer esses agentes de forma individual.

A cefaleia em salvas é a única mais frequente no sexo masculino, caracterizada por uma dor muito intensa (faz a pessoa querer bater a cabeça na parede!), que acomete apenas um lado da cabeça e da face, e nesse lado da dor, a pessoa apresenta sinais e sintomas que a gente chama de autonômicos: o olho fica vermelho, lacrimejando, inchado (junto do rosto), ocorre uma ptose pálpebras (a pálpebra fica mais caída), o nariz entope do lado da dor, a pele do rosto pode ficar inchada e com alteração do suor. Normalmente a pessoa fica meses ou anos sem a dor, que surge de repente, com diversas crises ao longo do dia e acometendo o paciente por alguns meses.

Cefaleias Secundárias

As cefaleias secundárias estão relacionadas a alguma doença: tumor, hemorragia, infecção ou trauma. Elas vêm acompanhadas daquilo que chamamos de “red flags”, que são as bandeiras vermelhas. Por isso, toda dor acompanhada de febre, desmaio ou alteração de consciência, por convulsão, vômitos incoercíveis (que não melhoram com nada!), fraqueza de alguma região do corpo ou ainda, com alteração do comportamento, precisam ser avaliadas com urgência.

Além disso, precisamos nos lembrar daquele paciente que já é portador de cefaleia crônica e que começa a apresentar uma mudança no padrão da dor ou então, que é acometido por uma dor-de-cabeça súbita e excruciante (podendo ser caracterizada como  “a pior dor da vida!”). Nesse caso, é mandatória a exclusão de uma hemorragia cerebral (invariavelmente pelo rompimento de um aneurisma).

Tratamentos

O tratamento das cefaleias primárias se baseia inicialmente em medicações analgésicas, podendo ser de uso esporádico (somente quando tem dor) ou ainda profilático ou preventivo, que é o uso diário de determinados medicamentos para que se evitem as crises. Aqui o importante é destacar que o uso de medicamentos analgésicos deve ser restrito a no máximo 2x/SEMANA(!) e por no máximo 3 meses, sob pena de a medicação ser a causadora de uma cefaleia crônica diária, ou enxaqueca transformada. Ou seja, aparece uma dor de características pouco definidas, diária, causada pelo abuso das medicações.

No caso das cefaleias secundárias, é necessário buscar atendimento médico com urgência, porque existe grande chance de ser necessária uma cirurgia para tratar a patologia que está causando aquela dor. Para os quadros de dores intensas, refratárias aos medicamentos e à mudança do estilo de vida, existe a indicação de alguns procedimentos percutâneos. Ou seja, através de agulhas algum ou alguns nervos podem ser bloqueados para alívio e tratamento das dores. Atualmente, a própria toxina botulínica tem se mostrado como uma boa alternativa para casos selecionados de migrânea crônica – obviamente não se trata de procedimento estético, já que os pontos de aplicação diferem em número e localização.

O recado que fica para aqueles que tem cefaleia: evitem a automedicação, tenham uma vida mais disciplinada e saudável possível e, se surgirem alguns dos sinais de alerta, procurem imediatamente um serviço médico especializado.